segunda-feira, 9 de maio de 2011

Let it be


Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, “Histórias Vividas”, uma imponente gravura. Representava ela uma jibóia que engolia uma fera.
Dizia o livro: “As jibóias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem mover-se e dormem os seis meses da digestão”.
Refleti muito então sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho. Mostrei minha obra prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo.
Respondera-me: “Por que é que um chapéu faria medo?”
Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jibóia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações.

O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint Exupéry


Houve um tempo em que eu também desenhava elefantes em jiboias, e pessoas de gravetos, sem me importar com o mundo de verdade. Até porque, se desenhar a realidade fosse lógico, não existiriam espelhos. Mas então vieram os catedráticos, com suas lições de gramática e história, dizendo que para ser eu precisava mudar de raciocínio. Mudei, desenrolei os cachos, tornei-me diplomática. Que coisa. Continuo com saudades de mim.

Ninguém precisa construir pontes para dentro de si mesmo, nem explicar loucuras passageiras, como o riso que vem fácil. Que pena que a vida adulta nos faz bonecos de argila, moldados ao gosto de padrões e regras sociais de um mundo quadrado. Aprecio mesmo é a coragem de quem é inexplicável, sabe, anormal. Mas rejeito pessoas pré-concebidas. Não adianta ser diferente de mim, se for igual a todo mundo.

Acho que conquistei o direito de ser meio esquisita, então não venha me obrigar a enxergar o óbvio. Já descobri que quero ser eu quando crescer, viver assim de bem comigo pelo resto da vida. Andar descalça, cantar sem saber a letra, transcrever meu universo em prosa poética. E se eu quiser morrer de amor, tanto melhor pra mim.


6 comentários:

  1. O problema dos outros é querer que vivamos como eles, já que não podem viver como nós.
    Belo texto.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Eu gosto do mundo assim, do jeito que é...
    Uns são, outros não.
    Alguns querem ser, outros pouco importam.
    E assim segue o equilibrio, e nesse fluxo todos se destacam, pra cima ou pra baixo, todo mundo tem o seu lugar...
    Gosto de viver como quero, como penso, o importante é estar feliz, não procuro viver assim por querer ser radical, mas por querer viver minha vida de forma intensa, pois ela é única!
    Mas também gosto de fazer feliz quem está ao meu lado, e as vezes posso deixar de ser eu por algum momento, mas não por ser "maria vai com as outras", ou por não ter "personalidade", mas sim pra conseguir conviver e ter um ciclo de amizades, amor e etc... Isso é "manter o equilibrio"... tudo que é demais ou de menos, acaba sendo prejudicial.
    Uns me acham esquisito, outros me acham "massa", outros me criticam e outros me admiram por agir de forma espontanea, descontraída e sincera.
    Mas o que realmente importa, é que sou feliz comigo mesmo, e sou feliz com o mundo por ser assim, por dar a todos nós a chance de sermos, o que ou quem queremos ser...

    Excelente o texto Fabi... Mais uma vez, parabéns!!!

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  4. Esquisito, já fui taxa de esquisito várias vezes e pra ser sincero, sempre gostei. Temos o poder de fazer diferença sobre tudo aquilo que é clichê.

    Bom saber que tenho conterrâneos que escrevem bem. A Ana Paula sugeriu seu blog e agora sua prima Fernanda. Seguindo aqui! o/

    Conheça o meu tb!
    www.sinceridadegozada.blogspot.com

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  5. Belo Blog, Belo Texto, ótimo design ! *-*

    Adorei aqui (;

    Seguindo, segue o meu anjo?
    - http://ewerton-lenildo.blogspot.com/ -

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  6. O segredo é nunca perdermos a essência... de resto, é adaptar-se.

    Gostei do Blog

    Abraços

    Alexandre
    http://soupretomassoulimpinho.blogspot.com/

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