Tenho medo de páginas em branco. Medo e fascínio. Quando criança colecionava cadernos cheios de linhas vazias. Às vezes escrevia neles. Não gostava, apagava, rasgava a folha. O cheiro da lombada rígida, a costurar margens e margens intocadas, e pensar que um dia talvez minhas idéias colorissem aquele mundo vazio. Estou ainda a procurar o segredo de preencher essas lacunas tristes. Ainda não consegui. É preciso muita beleza para não estragar a imensidão virgem do papel.
Sempre tive problemas com diários e agendas em particular. Imagina se eu, que nunca terminava nada, teria disciplina para seguir um calendário! Eu queria mesmo era seguir meus instintos, começar pelo meio e desenhar no começo. E eram só rabiscos encardindo meu mundo tão branco, que escapavam do lápis enquanto eu pensava no quê escrever. De tanto pensar, deixei as histórias de amor e aventura escaparem, procurei as palavras certas sem saber que elas fogem ao menor encalço. E fiquei apavorada com aquela pergunta insistente martelando no pedaço de papel em branco. Fugi, como muitas vezes ainda faço. E se cuspo palavras, é porque já não agüento viver no nada.
A analogia é válida. Se o silêncio da vida é tão grande a ponto de preenchermos com conversas e música, se as conseqüências dos meus atos mancharão a memória, então estou metida dentro do maior livro em branco já escrito. Eu não sei se o próximo parágrafo será o melhor, o mais curto ou comprido. Tantas páginas desperdiçadas querendo sublimar sentido em tudo. É assustador, eu sei. Cada manhã fresca esperando por continuidade, logo eu que tenho horror à iniciativa! Em homenagem a tantos cadernos abarrotados no fundo do estante, tomei a decisão. Eu não preciso ser uma obra de arte. Eu só preciso chegar ao fim completamente preenchida.
Um feliz 2011 a todos vocês.