Metade de nós, talvez, jamais descubra como é. Se a morte que separa famílias já é dolorosa, imagine perder alguém que se amou por escolha. Depois de meio século de casamento, de repente amanhecer na cama vazia, sem suspiros preguiçosos e abraços amarrotados. Eu conheci um amor que durou até o fim. Nas lágrimas de uma mulher profundamente devastada pelo falecimento do marido, mais do que um sentimento de dependência, eu enxerguei coragem; de amar aquilo que é frágil, e deixar-se viver na esperança de um reencontro. Uma valentia cada vez mais rara.
O casamento deixou de ser um ritual de respeito, mesmo uma celebração de afeto. Como um castelo de areia, se desfaz ao mínimo toque. De obrigação, evoluiu para contrato, facilmente revogável por qualquer uma das partes. Não se sabe razão para insistir em imperfeições, a tolerância já não cabe no mesmo teto, qualquer deslize é motivo para fazer as malas. Mas a glória do vestido branco e das festividades pirotécnicas, ninguém dispensa. Nenhum compromisso é fácil de cumprir. Um que promete o infinito, então, está além da capacidade emocional de uma cultura que só exercita o desapego.
Problemas surgem e, às vezes, o inevitável acontece. Uma máscara que cai, outro sentimento sufocado por falta de zelo. Não é justo obrigar ao convívio casais de cera, perfeitos na teoria, frios ao toque. Mas se o amor não é forte o bastante para sobreviver ao mau tempo, dificilmente merece dividir o mesmo barco. Aprender a ceder deve ser o primeiro passo de quem pensa em se casar. Sem a disposição para fazer pequenos sacrifícios, a ruína é previsível. Qualquer relacionamento acaba, não existem vírgulas eternas. O final mais feliz é ficar junto, até que a morte, e somente ela, os separe.