segunda-feira, 31 de maio de 2010

Como levar um pé na bunda com dignidade






De todos os infortúnios, poucos são tão cruéis quanto o vínculo sentimental que se rompe pelo meio – principalmente quando ainda existe uma metade inteira. Toda a dedicação, as expectativas criadas e os planos para o futuro afundam sob o peso esmagador da rejeição. É desolador, eu sei. Nos segundos devastadores da revelação, espera-se que o outro ensaie um sorriso, deixando escapar um “Primeiro de Abril!” traquina. Mas o rosto imaculado do ser querido permanece vazio de significação, inexpressivo e automático de desamor, ansiando pela distância. E você começa a imaginar o que vai contar em casa, como serão os Natais agora, e como sobreviver ao detestável 12 de Junho.


Acredite, é pior para quem desfere o golpe. Por isso, o primeiro passo é sempre evitar o pânico, manter a boa educação e agradecer ao outro pela coragem. Não é fácil terminar com alguém. Fazê-lo sem desrespeito já é um ato nobre. Mas se a decisão vem acompanhada de um imenso histórico de sacanagem, é um atraso, você que devia ter tomado a atitude. Não deseje a companhia de quem simplesmente não valoriza a sua. Sei que é difícil manter a diplomacia, seguir à risca o que o livro de auto-ajuda aconselhou. Mesmo porque ninguém é capaz de ser, o tempo todo, uma fortaleza de compreensão.
A fossa existe, é um buraco nauseabundo e ingrato, fundo demais para conselhos sem praticidade. A dor do abandono não cabe em uma página.



Primeiro de tudo, não importa o que preguem os gurus da sensibilidade altruísta: chorar é fraqueza, sim! Aquela lágrima que escapa é uma gota destilada de fragilidade, o jeito sutil que a alma encontrou de sangrar. É preciso ser um cubinho de gelo para não deixar escapar algumas. Mas o importante é não deixá-la escorrendo em plena luz do dia, para o deleite da platéia que assiste à sua desgraça. Não saia falando sobre seu sofrimento com os amigos, tampouco. Isso é chato, e só vai deixá-los com mais PENA de você. Como uma vez disse um amigo meu “Você não pode mostrar suas feridas para os outros tirarem a casquinha”. Enfie-se debaixo do chuveiro por meia hora, ou enterre a cabeça no travesseiro, e quando tiver a certeza de que se desidratou, saia de casa sorrindo. Curta a única pessoa que vai te acompanhar a vida inteira. Ela está bem ali no espelho.

A primeira fase do pós-relacionamento é uma negação escancarada. Os bons atores fingem que estão bem, enquanto enterram o nariz em copos amargos. Noites regadas à tequila desabrocham carência. Alguns começam a desabafar ali mesmo, outros esperam até o fim da noite – enquanto vomitam no carro do infeliz que ofereceu carona. As mulheres, particularmente, têm o péssimo hábito de ligar para o ex, nem sempre sob o efeito do álcool. De porre ou não, essa atitude é execrável. Não ligue para quem não liga para você. E, sim, SMS também está proibido. Se o outro perceber que cometeu um grande erro, voltará por conta própria, pedindo que você avalie a possibilidade de aceitá-lo. É assim que tem que ser. Não abuse da cachaça em público, é melhor beber com alguns poucos amigos de confiança ou em casa. Tire a bateria do celular, compre uma cartela de analgésico, para então desejar morrer.




É incrível, também, como o repertório musical muda drasticamente nesse período obscuro da vida. De repente, as letras sertanejas começam a fazer sentido. Mas o lirismo magistral desses tradutores do sofrimento só deixa aflorar as lembranças boas, endeusando aquela pessoa que nem era tão perfeita assim para você. É uma tendência humana engrandecer o passado. Lembre-se dos defeitos, de quantas vezes você tentou levar adiante o que já era insustentável. Largue a nostalgia, que dias melhores estão no calendário. Se ainda quiser cantar o momento, pelo menos o faça com classe. Siga o exemplo da grande diva:




Em uma coisa o pessoal da auto-ajuda estava certo: Você será feliz de novo.


terça-feira, 25 de maio de 2010

10 coisas que a Globo precisa saber



Brasileiro que é Brasileiro gosta de novela. Em uma espécie de sadismo egoísta, espera ver nos personagens os dramas que experimentam na própria pele. E até que os índices de audiência provem o contrário, a Rede Globo ainda domina a arte de cativar o público nesse sentido. Quem nunca se pegou ouvindo trechos de diálogos sobre beltrano que traiu fulana, histórias contadas em tom fúnebre da desgraça próxima, para só então descobrir que se tratava de ficção?

É, pois é.

O velho argumento de que as novelas da emissora pretendem retratar a realidade, no entanto, está longe de ser verdade. Tenho certeza de que os diretores/roteiristas estão vivendo em outro planeta, ou alguém teria o bom senso de contar a eles que:

1) O Zé Mayer não é mais sexy.

Não sei mesmo por que insistem em escalar esse ator para os papéis de putão homem libidinoso. O sujeito está quase caducando, mas surge de repente com todo um vigor sexual de dar inveja à nova geração, e a gente se pergunta se aquele olharzinho caído seria mesmo capaz de seduzir alguém com menos de 40 anos e juízo na cabeça. Se nas cenas de beijo os pixels denunciam a crista de galo que é o pescoço do sujeito, como acreditar na irresistibilidade de sua nudez, me diz?!

2) A verdadeira refeição mais importante do dia é o almoço...

Porque ninguém tem tempo de tomar café da manhã, nem dinheiro para comprar todas aquelas frutas suculentas, os bolos, pães de vários formatos, torradas e suco de laranja fresquinho. Será que tudo é de verdade? Porque um dia acordei e minha mesa de café da manhã estava recheada de semelhante variedade. Mas, no meu caso, todas as frutas eram parte de um arranjo de decoração feito de cera. Na vida real, a gente se contenta com um pãozinho com manteiga, café e leite com toddy.


3) Não existe sotaque universal.

Alguém pode avisar ao Tony Ramos, por favor? Por mais competente e simpático que ele seja, ninguém pode mesmo fingir que Americano, Grego, Indiano e Italiano soam da mesma forma. Seria demais exigir que o ator fosse poliglota, é claro. Mas usar o mesmo truque em todos os papéis estrangeiros (que se resume em usar português mesclado a expressões do idioma em questão) é subestimar a galera.

4) Adolescentes tem espinhas, bebem, são insuportáveis e transam feito coelhos.

No mundo mágico de Malhação, só os vilõezinhos passam pelos problemas das crianças de verdade. Agora piorou tudo, resolveram americanizar a história: tem até pista de gelo, com direito a campeonato de hóckey e tudo. O filho do Fábio Júnior, ouvi dizer, tem feito muito sucesso. Será que ele se candidatou a colírio da Capricho, no passado?


5) Briga de mulher dá ibope, mas enjoa.

Desde o sucesso do espancamento de Nazaré em Senhora do Destino, a moda pegou. Agora o embate entre vilãs é no braço, ou melhor dizendo, nos puxões de cabelo. Diplomacia, que nada. Morte às piranhas!

6)O casamento nem sempre é um final feliz...

Mas, na novela, todo mundo se casa no final. Esse parece ser sempre o desfecho perfeito para os romances que enrolaram a trama inteira, roubando tantos meses da sua atenção. O último capítulo, então, ninguém precisa assistir. É véu e grinalda na certa.

7) Mulheres tem períodos férteis diferentes.

Ou seja, é meio improvável que todas engravidem ao mesmo tempo. Sem falar que os sintomas aparecem uma semana depois do coito, os espermatozóides são ninjas, e as crianças já nascem grandes e cabeludas. Esse mundo da Globo é fenomenal.

8) A Vera Fischer não pode mais sorrir.

Desistam da idéia de dar mais um papel de tiazona simpática ou gostosa do bairro. O Zé Mayer está ai pra provar que os mais bonitos também envelhecem, mas pior ainda é quando tentam parar o tempo.

9) Temporais não começam do nada...

Geralmente vêm precedidos de algumas gotas, o que não acontece na meteorologia do Projac.


E o último, e talvez mais importante, para uma emissora de tal cacique:

10) Não só de rostos familiares se fazem as boas tramas.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Uma dica valiosa

Um pequeno desabafo aos que torcem o nariz para a minha inutilidade acadêmica: eu queria ser altruísta o bastante para cursar Medicina. Ou, quem sabe, ter nascido com algum talento aritmético que ultrapassasse os limites da regra de três. Engenharia Civil? Muita física para o meu caminhãozinho de areia. Desapontei a mãe, que me queria estudando Direito. Não vou defender a minha raça de Comunicólogos, tão constantemente menosprezada. Mas cuidado conosco, e falo sério. Essas criaturas esquisitas largadas em um canto qualquer, algumas precocemente taxadas de autistas (cof, cof), ruminam ideias o tempo todo. Infiltram-se em suas casas pelas frestas da informação, e de repente são muito mais eficientes do que os doutores sem doutorado. Em tempos de eleição presidencial, o alerta soa ainda mais sensato.





A publicidade é um castelo dourado de artimanhas, calcado no princípio da sedução a qualquer preço. E a psicologia de seus resultados é um dos campos de estudo mais fascinantes, mas a beleza do processo fica reservada aos entusiastas da área. Parodiando o escritor Arthur Clarke, uma persuasão bem sucedida é indistinguível de mágica. A propaganda eleitoral, então, é a Medusa desse universo. Atrai a atenção do cidadão despreparado, petrificando seus conceitos e suas verdades. Na telinha, todos são heróis reluzentes de batalhas pelo desenvolvimento. O verdadeiro lutador, no entanto, está perdido em algum santuário de promessas perdidas com o controle remoto na mão. Cuidado, muito cuidado. Não deixe merecer o seu voto alguém que pode trair a confiança do resto de nós. Nessa eleição, pesquise o histórico dos candidatos, descubra o que a propaganda nunca vai mostrar.

Para completar o raciocínio, segue abaixo um dos comerciais mais brilhantes da história da propaganda brasileira:




“É possível contar um monte de mentiras, dizendo só a verdade”

É, pois é.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Sobre mulheres e suas preferências


Que me perdoem os ultra-românticos, mas vocês arruinaram a vida das mulheres. Podíamos até ser razoáveis com a realidade masculina, não fosse a estupidez dos livros infantis e suas linhas retardadas de encanto, que nos fizeram esperar por príncipes. Não nos culpem por viver de esperas e exigências. Crescemos no reino fantástico da idealização, onde os homens são belos, fieis, e levantam a tampa do vaso. Uma vez adultas, acordamos no vale negro dos imperfeitos, e descobrimos que o possível amor de nossas vidas é apenas humano.

Depois do "Felizes para sempre"

Uma simples análise da “lei da oferta e procura” explica a quantidade de decepções que mancham a reputação dos homens há séculos. Não é que não existam homens decentes. Até existe, mas a maioria não consta no catálogo feminino de conquistas. Essas páginas, por outro lado, estão recheadas de belíssimos protótipos de sedução. Em outras palavras, o cafajeste colecionador de corações partidos. Pelo excesso de demanda, é impossível para eles manter um relacionamento só. Essa é a resposta para a dúvida que martela nas cabecinhas dos sujeitos honrados. Mulheres gostam dos homens que não prestam simplesmente porque eles são confiantes, másculos e viris. Ou seja, o príncipe encantado, só que promíscuo.


Exemplo de homem confiante, másculo e viril.

Se você ainda está nessa de escolher um parceiro por critérios de qualidade, deixe-me cortar o seu barato: a gente ama é pelos defeitos. O mais provável é que o galã não corresponda somente aos seus desejos. Não adianta escolher o mais próximo da perfeição, se no final ninguém é mesmo digno dela. O previsível não emociona, descarte os itens de uma lista sem propósito, o retrato imaginário de um rosto que não existe. A vida não surpreende os que esperam por ideias, tampouco traz amor a quem já se apaixonou por uma possibilidade.



A senhora não previa a cerveja, o futebol, ou os problemas de flatulência de sua outra metade. E nem por isso deixou de amá-lo um instante sequer, não é mesmo?

É, pois é.