sexta-feira, 29 de julho de 2011

Eterno conto de fadas


De todas as questões de gênero, nenhuma é tão assustadora quanto nascer menina. Traumatizada pela experiência prévia de tantas criaturas semelhantes da família, eu até quis ser diferente. Pensava: se é para exercer esse árduo ofício de ser mulher, que seja de uma maneira menos sofrível. Veio a primeira menstruação, época de congratulação e constrangimento, o primeiro sutiã – que, convenhamos, não alterou muito de tamanho, e com as monstruosidades corporais, a primeira decepção amorosa. Essa doeu. Eu ardia de amores platônicos. E embebida de rejeição, jurei não ser mais uma donzela frágil exposta aos horrores de um coração esmagado.

Tolice a minha, imaginar-me capaz de resistir ao pendor natural. Que toda mulher tem sim seus momentos de fortaleza. Mas a fraqueza maior, essa atração medieval e torturante que nos acompanha desde o embrião, é mesmo o sexo oposto. Sempre eles, os errantes irresistíveis. Quantas já não bufaram, exasperadas por uma ligação não retribuída ou um ritual ignorado, que os homens são todos iguais? Em defesa deles, ou mesmo em horror a uma conclusão recente, preciso admitir: idênticas somos nós.

Somos nós que caímos no conto do vigário, acreditamos em comédia romântica, e terminamos protagonizando algum dramalhão mexicano. E eu, que prometi imunizar-me dessas frescuras sentimentais, também acabo sempre chorando de raiva por alguma traquinagem tipicamente masculina. Por mais que tente fugir da sina, sempre chega o momento em que nos deparamos com a necessidade da provação amorosa.

Flores, chocolate, promessas de amor eterno e palavras bonitas ditas ao pé do ouvido. Presentes, também, que eles fazem diferença SIM. Não importa o valor. A graciosidade do presente é o detalhe da lembrança. Qualquer rabisco em papel é melhor que uma enciclopédia de ouro, nesse departamento. Claro que um colar de diamantes tem seus méritos, mas isso só se o camarada puder. Ser rico não é pré-requisito. O que importa é ser atencioso. Se não for, vai dar valor quando ela for embora. Eu nunca quis ser uma princesa. Hoje, quero ser mais: quero ser uma rainha valorizada e mimada. Sem romance, sinto-me murcha e infeliz, como uma planta que há muito não prova a seiva do carinho. Quisera eu estar contente com a originalidade do feminismo. No final, o que fica é a vontade de um clichê doloroso de amor.


NOTA:

PESSOAL, PRECISO MUITO DA AJUDA DE VOCÊS... UM CONTO INÉDITO MEU ESTÁ CONCORRENDO NO CONCURSO DE CONTOS DA CANTÃO, VOCÊS NÃO PRECISAM LER SE NÃO QUISEREM, MAS VOTEM! É MUITO IMPORTANTE PARA MIM, UM FAVOR INESTIMÁVEL!

PARA VOTAR, BASTA ENTRAR AQUI: http://www.li3.com.br/clientes/euamoescrever/contos.php?medalha-desonra&p=776

E CLICAR NOS CORAÇÕEZINHOS AZUIS!!!

AGRADEÇO A AJUDA DE TOOODOS!

PS: O CONTO É BACANA.

;D

segunda-feira, 25 de julho de 2011

[OFF] Ajude a Fabi

Olá pessoas amadas que curtem o Pois é.
Esse é um post de utilidade pública.
Estou participando do concurso de contos da Cantão que, infelizmente,
tem voto popular. Para ficar entre os primeiros 50, necessito de vossa ajuda.
Postei meu conto recentemente e preciso urgentemente do voto de vocês.
Para votar (e ler o conto, é claro, é um inédito!)


Só clicar no coração!
Um beijo grande


Ps: FELIZ DIA DOS ESCRITORES

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Fina ironia

Death by http://mr-twingo.deviantart.com/


Aos noventa e nove anos, o bom Eustáquio cansou de se deitar. Tentou de todas as maneiras e posições, rolou aos extremos do mar de lençóis que a empregada engomava, quando enfim desistiu de adormecer na horizontal. A família tentou, em vão, persuadi-lo a descansar a coluna curvada por tanta vida. Mas ele, enterrado na poltrona de couro, negou-se a obedecer. Que os ossos virassem pedra, só descansaria se fosse sentado e de olhos abertos.

No fundo inconfessável daquela teima estava um medo repentino. Alguns dias antes, enquanto descascava uma laranja na varada, alguém do lado de lá avisou que a morte viria buscá-lo. Não sabia explicar como soubera, só sabia. E resolveu adiar ao máximo esse encontro que já atrasava algumas décadas. “Pode até chegar”, remoia, os olhos azuis cristalizados de catarata “Mas não vai me encontrar pronto para o caixão”.

Gostava de viver, aquele ali. Descia as ladeiras de pedras irregulares como se fosse ainda o garoto das cocadas, o namorado da Onória, o marido da Ritinha. O tempo só havia passado do lado de fora. Ultimamente, estava certo da perseguição invisível. Se dormisse, era capaz de não acordar – ai dele se não dificultaria o trabalho da malograda. Não conseguiu. Na fila do banco, lotada de cabeças de algodão à espera do benefício mensal, um zumbido de mosca incomodava. Fechou os olhos por dois segundos e, com um soluço de surpresa, morreu. Tanto de dia, quanto de pé.


quinta-feira, 7 de julho de 2011

Tributo à arte de escrever


Já me acusaram, infinitas vezes, de ser infantil. Admito. Por Harry Potter, torno-me a criança que fui quando o descobri. Vocês não sabem como é. Ou talvez saibam, mas tenham perdido há muito a coragem de assumi-lo. Essa série fantástica que acompanhou a minha geração inteira agora ganha seu último filme. Não significa seu desaparecimento. Claro que não. Todos nós sabemos que boas histórias não morrem nunca.

A humanidade precisa da ficção, não só para amenizar os transtornos de viver sem intervalos, mas enquanto tradução dos anseios e dúvidas. Cada linha escrita e interpretada, seja em qualquer suporte ou era, remete ao desejo de provar outras experiências sem sair do lugar. Esse é o trunfo de nossa capacidade de raciocínio, reinventar o mundo, semeando vida com suspiros de criação. Um bom contista injeta emoção em doses homeopáticas. Melhor ainda, é capaz de despertar paixões por quem não existe.

É indescritível observar o fenômeno dos fãs. A mobilização, o endeusamento talvez. O segredo, quem me dera saber. No caso de J.K Rowling posso dizer com confiança que foi o universo magnífico criado com tanta verossimilhança e carinho. O que começou com um livro infantil desaguou nesses milhões de quase adultos, marcados pelos conceitos de amor, virtude e heroísmo que permeiam a história. Sou orgulhosa de ter participado disso.

Eu poderia dizer, com franqueza, que escritores já nascem feitos. Se não aprendem as letras, contam histórias orais, delineiam personagens à tinta. Mas essa vontade de abrir portas para novos universos é herdada dos outros, os mestres do passado. No meu caso, Rowling deu o pontapé inicial. Se nasci para isso, não sei. Tenho, no entanto, muitas vozes dentro de mim, elas saem dos meus dedos com a mesma avidez com a qual respiro. Longe de me pertencerem. Quando escrevo, não o faço por orgulho próprio. Apenas devolvo ao mundo as palavras que ele soprou no meu ouvido.