Por muito tempo acreditei que era preciso ir à caça para encontrar tesouros, quando o mapa dos meus desejos estava escondido no bolso de um amor tão próximo. Não foi preciso desbravar mares infinitos, nem roubá-lo de ninguém: era meu, e ponto. Caiu em mim e serviu. Outras partiram e voltaram sem a mesma sorte, recolhendo velas de embarcações furadas. Alguém, talvez, estivesse esperando por elas no próximo cais, aquele justo o qual ninguém foi visitar. Mas não é outra força que arrasta a vida, se não os ventos do acaso.
Convenci-me de que a busca é o veneno do encontro. Procuras incessantes só revelam achados desnecessários. Corações solitários não devem alugar-se por qualquer preço, nem perder a fé de que um dia chega o inquilino. Não adianta desenterrar números antigos e apanhar o primeiro bonde rumo ao compromisso. Nem sempre estar junto é bom. Quem quer ser descoberto precisa, antes de tudo, achar a si mesmo.
Não existe amor pré-concebido. O bicho arredio ignora sugestões, por mais bonitas e adequadas que sejam elas. Vem e vai ao ritmo da maré, deságua em praias inesperadas. Navegar em direção a ele é inútil, a predileção é pelos distraídos. Em algum lugar existem mãos dispostas a segurar as suas pelo resto da vida, que vão se perder em outros corpos se as ânsias do querer imediato não permitirem alcançá-las. O segredo é aguardar. Como a rede lançada ao mar que espera, pacientemente, o cardume perdido.