Estou convencida de que, de tantas idéias rasas, o mundo acabou afogando em superficialidade. Já não consegue sair do lugar-comum. E o resultado é um entretenimento barato, sustentado por escândalos e fórmulas antigas, reflexos da própria sociedade preguiçosa. Na era dos relacionamentos descartáveis e das redes virtuais, falta originalidade.
Como admiradora do cinema, o único que ainda contava com a minha audiência, percebo a decadência das atrações. Um festival de pirotecnia sem qualquer linha de coerência, reciclagem inédita de velhos clichês. O império da técnica desbancou a criatividade, a filha bastarda cujo investimento de repente é arriscado demais para a grande indústria cultural.
Se antigamente Hollywood era o glamour de suas estrelas e seus grandes diretores, hoje é apenas o plano de fundo apagado de outra dimensão. Já não se paga pela emoção, mas para experimentar uma dose digital de realismo. Se quer fugir, não vai muito além do que já se conhece. E eu digo a esses roteiristas de merda: não quero histórias requentadas, continuações mirabolantes, muito menos refilmagens. Dê-me atuações bem feitas, tramas intricadas e diálogos consistentes. Estou cansada de rir das mesmas piadas, de rever os personagens que já deviam estar imortalizados, mas cujo carisma descongelado garante o público, desacostumado a digerir o novo.
Estamos todos assistindo a um desfile de mortos. Se no cinema ressuscita-se aos montes, na televisão eles sequer descansam em paz. O instinto humano de consumir tragédias faz do noticiário um espetáculo, no qual se disseca os detalhes de uma barbaridade qualquer para prender a atenção do respeitável público. O consumo de desgraça alheia acalenta os pobres de espírito. Não deixe o conforto da sua casa, caro leitor, para apedrejar o vilão da vez. Se a mídia oferecesse o mesmo espaço para divulgar outros horrores, todos descobririam que seus dedos são poucos para apontar os culpados. É para isso que existem tribunais. Dê a César o que é de César, e todos pagarão o preço.