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Eu pensei que sabia me virar sem elas, as pessoas. Acreditei-me imune à solidão desvairada de não ter ninguém. Depois de tanto ser rodeada por vozes esganiçadas, agora mal suporto o silêncio constante: desaprendi o ofício da misantropia. Falhei na minha ambição mais constrangedora, de ser independente e viajada. Se arrisco a fuga, volto para casa com o rabo entre as pernas e peço dois copos de leite quente. Já não sei viver sem família.
Perder dói. Quando o amor é grande, então, o golpe deixa feridas incapazes de sarar. Amo tantos que não sei se tenho capacidade de arrancar infinitos pedaços de mim. Mas sem eles, não valeria a pena o tributo de qualquer choro. Consolo de uma lágrima é ter outras com as quais formar uma nascente. O importante é não deixar nossos elos enfraquecerem com o tempo, renovar em vez de esvaecer. Fomos feitos para resistir, como as raízes de árvore que se espalham sem deixar apodrecer as lascas mais antigas.
Eles podem ser tão diferentes de mim que mal cabem no meu sangue. Sabem irritar e cuspir no prato oferecido. Às vezes roubam minhas roupas e, em outras, minha paciência. Não importa. Sempre acabo voltando para os nossos churrascos e discussões. Precisei deixá-los para entender o quanto a solidão pode ser insuportável. Só os meus podem me lembrar de quem eu sou.