quinta-feira, 28 de março de 2013

As cicatrizes dos primeiros amores




Outro dia visitei o perfil no Facebook do Lucas Souza. Lucas é um estudante de agronomia da Universidade Federal de Santa Maria, namorado (me recuso a usar o termo “ex” nesse caso) de Paula Gatto, uma das vítimas do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria. Após ler duas postagens recentes do rapaz, não consegui conter as lágrimas. Ele mantém, como forma de alívio ou quem sabe paz, uma conversa com a namorada e cada linha é um pouco mais desoladora que outra. É um retrato de um jovem casal de namorados que descobria as delícias do amor e foram obrigados a se despedir antes mesmo de aprender a dizer adeus.
Sou contrária ao pensamento de que os jovens não sabem amar, de que os jovens não devem se casar. O amor juvenil é um pouco mais gostoso e inocente e há quem diga que nenhum substitui o primeiro. Os completamente adultos já estão desgastados pela vida e vão perdendo um pouco a fé a cada relacionamento desfeito. O amor adulto é maduro, sim, mas também contido, abalado por golpes de outra época – e infinitamente menos encantador. Não há nada de entrega, nada de descoberta. É só um velho roteiro com novos atores, sempre à espreita de um ponto final, por não ignorar que ele sempre chega.
Talvez, se a tragédia não interrompesse os planos, Lucas e Paula namorassem apenas mais uns anos, até seguirem caminhos separados, como manda o script. Talvez tivessem se casado e tido filhos. Tiveram tudo, menos a chance. E isso é o que mais dói. “Ninguém casa com o primeiro namorado”, “é  melhor conhecer outras pessoas antes de se envolver sério com alguém”, ditam as máximas de uma sociedade que valoriza o prazer e a diversidade. E pouco a poucos vamos acreditando um pouco menos nesse amor que bate e fica.
Mas a verdade é que, por mais que seja estreante, nenhum amor é precoce. E não é fraqueza acreditar nele logo de imediato. Não acho raro e impossível que a pessoa da sua vida esteja próxima e apareça logo, por mais que para outros demore um pouco mais. Espero que Lucas não se sinta culpado quando se apaixonar novamente. Deixar de amar não quer dizer esquecer.