segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Brasília dos forasteiros


 Não se deixe enganar pelas curvas arredondadas e o projeto ambicioso: Brasília é uma cidade nostálgica. Os rascunhos eram modernos, mas a dor de quem construiu era antiga. Uma capital que surgiu, da poeira e suor, para ser o futuro, não pode esquecer que antes de tudo veio o passado. O resultado é esse que vemos nas largas avenidas, nos blocos sem pessoas, nos vazios sem significado. Há sempre o eco de outros lugares, de outras lembranças.  Sinto muito, Brasília. Ninguém te ama por você mesma. Há sempre outro amor engatilhado, um outro lar para chorar. Você nasceu para ser livre, para ser revolução, e só consegue ser saudade. 
E mesmo assim, com o tempo, a gente vai se ajeitando. Criando memórias. De repente, os prédios já não parecem tão iguais, nem os vazios tão vazios. Tem sempre a memória daquele dia chuvoso em que você precisou caminhar mil metros até achar um ponto de ônibus. Ou o dia dedicado a um passeio despretensioso pela Esplanada. Com o tempo, você começa a rir dos tempos em que errava os endereços, malditas siglas frias e calculistas, e de quando furava uma tesourinha e ia parar no mesmo lugar. Das farras embriagadas da UnB. De quando precisou xingar alguém por ter perguntado se você já viu o Lula (ou a Dilma). 
Olha, Brasília, quem eu amo não está aqui. Vou sempre sentir falta de outro lugar que não é você. Mas aprendi a me acostumar com seu céu azul, suas mudanças de clima inesperadas, com a seca que arranha a garganta nos meses de julho e o sol que parece nunca dar trégua. Não importa se ninguém fica aqui nos fins de semana e feriados. Se todo Natal e Ano Novo eu fujo para junto dos meus. Pra tanta saudade, até que você é excelente consolo.