terça-feira, 12 de abril de 2011

Só mais uma crítica social

*Esta é uma história verídica.
Infelizmente.



Brasília não é covil de ladrões, como prega a mentalidade nacional. Também não é só vazio e Legião Urbana. Nem tudo acaba em pizza. Perdida em um ponto indeciso do espaço, a primeira cidade bipolar. Não sabe se chove, ou se faz sol. Mas de boas iniciativas também se faz o cotidiano da capital. Ideia original de Luiz Amorim, açougueiro, a biblioteca popular coordenada pelo Açougue Cultural T-Bone chamou bastante atenção da mídia quando foi inaugurada, em 2007.

Funciona assim: estantes de livros são colocadas nas paradas de ônibus da cidade. O acervo é composto de doações. Qualquer um que passar por ali pode apanhar um exemplar emprestado, mergulhar em aventuras incríveis e, inspirado no ideal cívico, devolver. Nos últimos dias, 3 anos depois de satisfeita a empreitada, uma triste situação.


Os livros estão desaparecendo. Cada vez mais raros nas prateleiras de ferro, os sobreviventes desfolhados enfrentam a dura batalha contra o descaso. A cultura que nasceu para viajar pelos lares bem intencionados e depois voltar a outro ponto de partida, de repente abortada no meio do caminho. No cartaz afixado na parede, a denúncia envergonhada revela: carroceiro é o culpado de roubar os livros. Esse senhor de idade, que provavelmente não sabe ou lê mal, encontrou uma finalidade melhor para aquele tesouro a céu aberto. Vendeu tudo por quilo.


Brasília não é covil de ladrões, mas o Brasil, aparentemente, tem fome. E não é de leitura.

5 comentários:

  1. Olha, Fabiane. To sem palavras. Texto delicioso de ler, você tem um grande talento pra escrever, hein. Louvável tarde essa em que paseei pelas comunidades de blogueiros no Orkut e encontrei teu blog. Ja to seguindo, abraços!

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  2. Infelizmente, ambas as situações são tristes. Tanto a necessidade do carroceiro quanto o descaso com a leitura. Por isso não acredito muito em iniciativas como aquela que sugeria a leitores deixarem livros já lidos em pontos da cidade, para que ele fosse passado adiante.
    No papel, são iniciativas excepcionais. Na prática, falham. E falham porque nosso país ainda tem muito o que trabalhar, o que consertar, antes de tentar difundir melhor a cultura.
    Belíssimo texto.

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  3. Fabiane, que escrita maravilhosa! Texto crítico, coerente, inteligente e "infelizmente" real não é?! Não sabia desta iniciantiva, fiquei encantada! Uma pena não funcionar num país em que as imediaticidades gritam mais alto!
    Bjs e seja sempre bem vinda tb!

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  4. Se ao menos os livros estivessem morrendo porque estamos lendo muito mais através de computador, Ipad, o que for... mas não, estamos deixando a poesia e o cheiro dos livros pelo vazio... Trsite. Beijos!

    P.S: te achei através de indicação do meu marido (Sandro Ataliba). Seguindo :)

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  5. Sim sim. Concordo com vc e com a Thais, se ao menos essa troca fosse pelos livros virtuais.
    É uma tristeza ver tantos projetos com uma essencia tão boa acabando por falta de incentivo. Esse país está uma tristeza, ninguem valoriza a cultura.
    -----------------------
    Se puder, dá uma passadinha no meu e diz o que achou! Aceito críticas e sugestões
    http://rabiscosaleatorios.blogspot.com

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