A minha casa está cheia de fantasmas. No topo das escadas,
na beira da minha cama. Eles nunca me respondem, apenas acenam de um lugar
melhor do que ao meu lado. Fico perambulando por aí, um sorriso de canto de
lábio, mas olhos tristes. Apagou-se o brilho dos meus olhos. A minha cabeça
também não vai lá essas coisas, está presa no passado. Por isso vim parar aqui.
Ouço vozes, doutor. Elas poderiam dizer: “acenda o fogo e coloque o jantar na
mesa, que estou voltando hoje”. Então ele chegaria, com os ombros cansados, e
eu não mais o julgaria. Engoliria de novo as pedras que cuspi. Em vez de
oferecer a minha rebeldia indomável, daria o meu abraço.
Quando me dou conta, estou falando com as paredes. São os
dias gloriosos que assombram os cantos. Aqui, no presente, não existe mais
ninguém. Meus pés cansados caminham toda a extensão do quintal – não há sequer
um abismo onde cair. A mente embaralhada só quer um conforto. O amor enlouquece.
Tortura. Já não sei direito como é o rosto dele, porque queimei todas as fotos.
Doía olhar para elas, no topo da estante, ele naquele retrato de militar fardado,
com as sobrancelhas grossas desenhando um semblante sério demais – de repente,
me lembrei. Lembrar dói.
Os piores fantasmas são os que estão vivos.
Lindo
ResponderExcluirQue merda, Fabiane! Toda vez eu tento te fazer um elogio e não consigo, eu sou simplesmente encantado com essa mistura de ficção com reflexão que você faz. Como você consegue ser tão confessional e ao mesmo tempo imagética, como as letras do The Killers. Bem, conviver com fantasmas não é algo voluntário, mas felizmente nada pode nos obrigar a viver com eles.
ResponderExcluirFelicidades!
fantasmas da mente, da vida, do corpo. Também qdo me dou conta acabo falando com as paredes...
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