sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Homens de grafite



Você escreve. Desde criança, constrói ficção. E parece que, de uma forma ou de outra, quando viram palavras os personagens não te pertencem mais: fogem para as linhas, agora são do mundo. Paulo Coelho, esse pseudo-cultista-escritor-bruxo que nunca admirei, mas cuja sagacidade momentânea me fascina às vezes, postou em uma de suas redes sociais que “o livro se escreve por si só. O escritor apenas digita as palavras”. Devo admitir, projeto de autora que sou, que não decido o destino dos meus personagens. Eu apenas digo as palavras mágicas que os fazem surgir. Sou Deus sem onipresença.

Tem esse cara, por exemplo, me surgiu pronto na mente. Mas eu quero que ele seja algo e, de repente, lá está ele, trilhando seu próprio caminho. E eu digo: ei, pare por ai amigo, eu defino onde você vai estar! Não tem jeito. Eu não sei de nada. As ideias escorregam e de repente um roteiro pronto de vida está traçado. Juro, da primeira linha ao resto, é como se alguém sussurrasse o que vem depois. Por isso o silêncio, por isso a concentração.

Eu dou a luz todos os dias a filhos que morrem na gaveta. E esses filhos, que consumiram tanto de mim, não são meus. A criação é o ato majestoso de desapego.

4 comentários:

  1. ualllllll
    concordo plenamente com este texto.
    as ideias saem como se não me pertencesse, isso é que nos faz cada vez mais escrever, este ato misterioso e encantador que poucos percebem, somos previlegiados de alguma forma em manter esta forma de comunicaçao sempre sendo estimulada.
    muitas vezes é o proprio personagem que se coloca e quer sair dai realmente nao temos o controle dele ele proprio, impoem seus argumento.
    gostei D+ do texto, voce sempre escreve lindamente.
    um grande abraço

    http://literaturaearte0809.blogspot.com/

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  2. Me sinto exatamente assim quando estou escrevendo. Por mais que eu queira um caminho, quem realmente decide o que vai acontecer são os personagens. Eu até consigo marcar início, meio e fim, mas sobre o que acontece entre estas etapas eu não tenho controle nenhum.

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  3. Nossa! Adorei o texto, perfeito e é exatamente o que acontece quando começo a escrever...
    Texto maravilhoso, com palavras perfeitas para expressar o que se sente.
    Parabéns!

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  4. O Heitor que criei pra mim, se perdeu na multidão, a Laura que deveria me ouvir de madrugada, está ocupada demais matando uns caras.
    Escritor tem que aprender que não se escreve para si, se escreve para o mundo. Quem não quer exposição não escreve.
    O foda é quando se é levado por essa exposição, e quando se vê, já perdeu seus melhores amigos.

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